Conexão pai e filho

Outro dia estava “de molho” em casa em razão de uma lesão no cotovelo. Lá pelas tanta um par de homens chegou pra entregar uma mesa.

Não sei bem porque, mas um deles começou a me contar a história do relacionamento dele com os filhos. Se é história, topei.

Me falou do caçula, que tem 4 ou 6 anos, não me lembro, mas é uma criança. Quando falava dele, citava o nome, se emocionava.

Do outro, adolescente, sempre se queixava, e jamais tocou no nome dele. Era o “outro”.

Haviam se mudado para uma cidade próxima a Goiânia pra, no meu entendimento, blindar o “outro” das más influências e de eventuais problemas.

Comecei a captar que o problema talvez não estivesse no filho, mas no pai e em sua relação com ele. Mas continuei ouvindo até que ele parou e ficou me olhando, como se esperasse um feedback. Perguntei a ele se queria minha opinião, e mais que depressa ele aceitou.

Antes de continuar perguntei se ele estava realmente disposto a ouvir minha opinião, pois poderia ser algo que não o agradasse. Ele concordou, e bora lá.

Agora vou falar como falei com ele… Aliás, vou mudar a cor do texto pra facilitar…

“Cara, você claramente gosta mais do seu caçula. (aqui ele meio que concordou, mas meio impressionado)
Você me fala com carinho dele, disse o nome dele quatro vezes, mas não sei ainda o nome do ‘outro’.

E, cá entre nós, é muito mais fácil gostar de uma criança na idade do seu caçula. Ele pula em você quando chega em casa, ele brinca, ele faz de tudo pra ter você por perto, pra ter seu amor. Ele é mais fofo, ele sorri, te faz sentir bem.

Presta atenção nessa palavra: CONEXÃO.

Você tem conexão com ele, e ele com você. Assim é tudo mais fácil mesmo.

Mas o ‘outro’ também é seu filho. Você se lembra disso o tempo todo ou ‘chuta o balde’ diante de um confronto, de uma porta fechada, de quando ele te ignora e não te ouve? (aí só se ouviu aquele ruído de quando se engole algo que não estava esperando)

A partir de hoje, quando chegar em casa, olhe pra ele e diga pra você mesmo: eu te amo do mesmo tanto que seu irmão.

Pode soar estranho, mas repita esse exercício cada vez que o encontrar. Mesmo com a porta fechada. Mesmo sem resposta dele. Mesmo que você não receba nenhum olhar, ou mesmo que o ouça resmungando.

Você deve se convencer que ama seus filhos da mesma forma.

Uma pergunta que vale a pena se fazer, mesmo que pareça forte demais é: “se alguém vier levar um filho meu hoje, eu vou escolher qual deixarei levar ou vou lutar para que os dois fiquem?”

Vá pra casa – continuei – e tente se conectar com seu filho mais velho. Você me disse que, quando vai a um jogo de futebol dele, fica cobrando melhor rendimento dele o tempo todo. E mais: na ida e na volta também.

Conecte-se com seu filho.

Chegue em casa, vá até seu quarto e dê um abraço ou um beijo, e saia.

Comece sem palavras.

Daqui uns dias, chame-o para um picolé. Só vocês dois. Mas não diga nada que pareça cobrança.

Toda cobrança que você fizer pra ele agora não terá menor efeito. Pelo contrário, provavelmente ele fará tudo ao contrário, só pra ter sua atenção.

Sem conexão, a conversa não funciona.

Sem conexão, nada funciona.

Não adianta correr para uma cidade pequena fugindo dos problemas, pois você sempre levará o problema com vocês, pois o problema não está no local onde moravam. E em relação ao traficante, se isso era uma preocupação, onde você for terá um. Triste, mas verdade.

Você vai perceber quando for a hora de falar com ele, mas pode ser que nem precise mais cobrá-lo por nada, depois que estiverem conectados.

Quer mais um conselho?

Começe HOJE.

Assim terminei meu diálogo com ele, talvez com uma palavras a mais ou a menos, mas com a mensagem transmitida, um pai emocionado e pronto para tentar mudar.

Na verdade, dois pais emocionados, pois me senti uma ferramenta de transformação na vida de um desconhecido, e isso me fez muito bem.

Até por isso esse blog faz mais sentido. Não faço ideia de quem possa ler, mas se alguma coisa pode ajudar alguém, que seja!

Por hoje, só isso.

Bons sonhos!

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